Já faz tempo que o Rio se encontra numa constante realidade de abandono: suas construções antigas não estão bem preservadas, algumas ruas durante o dia parecem cenários apocalípticos e a sensação de segurança é inexistente. Mas apesar de tudo isso, é um tesouro com muitos encantos a serem descobertos. Claro que alguns dias não dão conta de explorar os mais de cinco séculos de história da melhor capital que o Brasil já teve, mas é um começo para se apaixonar pelo local. 
*Fiz essa viagem em novembro de 2020, durante a flexibilização da pandemia, com isso, algumas das atrações e estabelecimentos estavam fechados ou operando com restrições. Mas ainda sim pude aproveitar o que a cidade tinha a oferecer. 
Dia 1 - Pedalando

Museu do Amanhã

Cheguei por volta das 7 da manhã e fui direto pro hotel deixar minha mala no quarto. A hospedagem em questão foi o Hotel Astoria Copacabana, que fica a 5 minutos andando da praia e da estação de metrô Cardeal Arco Verde. Aproveitei o horário para caminhar pelo Calçadão mais famoso do Brasil, admirando a arquitetura dos prédios e indo até a Mureta do Leme, que oferece uma linda vista da baía e ainda conta com uma estátua da Clarice Lispector.
Descobri que aos domingos a maioria das avenidas ficam fechadas para carros, então escolhi pegar uma bike do Itaú, que tem postos com dezenas de bicicletas por toda cidade, e fui de Copacabana até a Saúde, a 10 km de distância. Recomendo demais fazer esse percurso pedalando para conhecer o Aterro do Flamengo, um gigantesco parque à beira mar. Depois de pedalar por uns 40 minutos, notei um obelisco e segui pela Avenida Rio Branco para chegar à minha região favorita da cidade, a Cinelândia, que explorei outro dia. Apesar de não ser mais tão turística, existem muitos moradores de rua ali, é uma região segura para passar de bike e muito linda para admirar as gigantescas construções centenárias.
Fui até o final da avenida para chegar ao Museu do Amanhã, que tem uma arquitetura surreal para os padrões brasileiros. Mesmo com foco em ciências, escolhi não visitá-lo, mas aproveitei para tirar dezenas de fotos de suas formas geométricas e da imensa piscina que fica voltada para o mar. Dali virei à esquerda e conheci o Píer Mauá, onde estão diversos espaços artísticos que foram muito visitados durante as olimpíadas, mas que hoje se encontram um tanto largados. No entanto, vale continuar no pedal para admirar o mural Etnias, do Kobra, e a roda-gigante Rio Star, que também não visitei.
Vista do Forte do Leme
Vista do Forte do Leme
Estátua de Clarice Lispector
Estátua de Clarice Lispector
Monumento da Segunda Mundial, no Aterro do Flamengo
Monumento da Segunda Mundial, no Aterro do Flamengo
Praia de Ipanema
Praia de Ipanema
A gigantesca atração é o último atrativo do píer, então fiz todo o caminho de volta e parei para almoçar no Flórida Bar e Restaurante, um genuíno boteco com cerveja gelada localizado aos pés do Museu de Arte do Rio, que abriga trabalhos de artistas brasileiros e uma linda vista da região.
Ainda com a bike, voltei pedalando pela rua Primeira de Março, onde estão outros ícones arquitetônicos da cidade, como o Palácio Tiradentes e o Paço Imperial, além das magníficas igrejas Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, Nossa Senhora do Monte do Carmo e a São José.
Por volta das 16h já estava em Copacabana outra vez e decidi ir até o limite da praia do Leblon, cujo percurso foi bem simples: só seguir pela Avenida Atlântica, virar à direita no final da via, e seguir infinitamente até quase os pés do Morro Dois Irmãos. A ida e volta levou cerca de duas horas, então comprei um lanche numa vendinha qualquer próxima ao hotel e dei como encerrado meu primeiro dia na Cidade Maravilhosa.
Dia 2 - Aula de História
Durante toda viagem optei por dormir relativamente cedo para consequentemente acordar cedo, para assim aproveitar o luz do sol ao máximo, com isso, por volta das 9h30 já estava desembarcando na estação de metrô Tiradentes, no Centro, e fui dar uma espiada na Igreja São Francisco de Paula, inaugurada em 1865 e com um interior todo talhado a mão. Dali é só um pulo para o Real Gabinete Portugues de Leitura, o sonho de qualquer bibliófilo. Como se fossemos transportados para a Europa do século XVI, o lugar guarda mais de 350 mil volumes das mais variadas obras da literatura, sem contar que possui a maior coleção de livros portugueses fora de Portugal.
Quinze minutos de caminhada separam a biblioteca da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, de pé desde 1877, que chama atenção pela gigantesca cúpula e pelos murais no teto. Quase ao lado da catedral se esconde a sede carioca do CCBB, que foi um dos encantos da viagem. Ao longo dos cinco andares estão expostas diferentes mostras temporárias e permanentes, e o destaque, pelo menos para mim, foi a Galeria de Valores, que conta a história do dinheiro brasileiro e mundial.
Real Gabinete Português de Leitura
Theatro Municipal
Theatro Municipal
Fundação Biblioteca Nacional
Fundação Biblioteca Nacional
Igreja São Francisco de Paula
Igreja São Francisco de Paula
Igreja de Nossa Senhora da Candelária
Igreja de Nossa Senhora da Candelária
Interior do CCBB RJ
Interior do CCBB RJ
Devo dizer que não tenho problema em fazer longas caminhadas, e em tempos onde a pandemia estava no auge, andar se mostrava a opção mais segura (mesmo estando no Rio), por isso fui andando do centro cultural até minha parada para o almoço, no centenário Amarelinho da Cinelândia, um restaurante simples, mas com pratos saborosos, chopp trincando e com muita história para contar. Sua localização é de dar inveja: fica bem na frente do Theatro Municipal, da Fundação Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, atrações obrigatórias quando se está na região.
O Theatro oferece tours gratuitos quase todos os dias, e no percurso de uma hora se conhece diferentes partes de seu interior, incluindo a majestosa sala de espetáculos. Infelizmente não tive a chance de conferir uma apresentação ali, mas está na lista. O passeio na Biblioteca pode ser feito tanto em grupo quanto individual, e apesar de ter conhecido o local sozinho, acredito que a visita orientada se aprofunde mais na história do acervo e do prédio. Ambas atrações são gratuitas. Não visitei o Museu pois o mesmo estava fechado para obras na época, que continuam até os dias de hoje.
Dia 3 - Nas Alturas
O Rio tem mais de 500 trilhas de diferentes níveis espalhadas pelos seus parques e montanhas, e para a manhã deste dia escolhi fazer a trilha do Morro da Urca, que dá acesso ao terminal do Bondinho do Pão de Açúcar. Fiz um percurso de 5 km de bicicleta a partir do hotel para chegar à base do morro e comecei a subir. Com boa acessibilidade, a caminhada levou cerca de uma hora (porque fiz inúmeras paradas para tirar fotos) e não foi tão difícil, sem contar que ao longo do percurso ainda existem diversos mirantes para admirar a vista do mar que valem o esforço. Devido ao coronavírus, o portão de acesso ao Bondinho estava fechado, então tive de dar meia volta e descer toda a trilha.
Ainda na base do morro, a Pista Cláudio Coutinho se mostra uma ótima opção para quem não tem pique pra subir o morro. Durante a caminhada se encontram diversos lagartos e macacos, além de espécies de árvores em extinção e uma imensidão de mar azul. Como eu estava com o modo aventura ligado, decidi escalar umas rochas que encontram as águas ao final da pista, mas reconheço que é algo arriscado de se fazer, ainda mais se estiver sozinho. Nas rochas ainda se esconde a Caverna do Pão de Açúcar, que atiça a curiosidade por seu formato, mas que não tive coragem de explorar. Depois disso tudo, tomei uma água de coco na Praia Vermelha e voltei ao hotel para um banho rápido.

Vista a partir da Pista Cláudio Coutinho

Ainda eram 12h, com isso desembarquei na estação Cinelândia do metrô e segui reto até o final da Rua do Passeio, onde de longe já é possível ver os Arcos da Lapa. De todas as atrações da cidade, essa foi a que menos me impressionou, e o motivo para isso foi que o local estava completamente abandonado, com muitos moradores de rua e com lixo por toda parte. Assim, segui pela Rua Mem de Sá até virar à direita na Teotônio Regadas, toda decorada com grafites, e visualizei a multicolorida Escadaria Selarón, que estava com pouquíssimos visitantes.
Com 215 degraus, a atração é provavelmente a mais recente de toda a cidade, já que foi finalizada em 2013 após a morte de seu “criador” Jorge Selarón. O artista, que morava em uma das casas rentes à escadaria, começou a revitalizar a área abandonada por volta de 1990 com azulejos trazidos de diferentes países e dedicou mais de duas décadas no projeto. No entanto, Selarón foi encontrado morto carbonizado nos degraus da obra em janeiro de 2013. A causa da morte foi dada como suícidio.
Foram apenas 15 minutos de caminhada até a Estação de Bondes de Santa Teresa, ao lado do metrô Carioca, onde comprei o bilhete para o passeio. Dependendo do dia e horário pode haver fila, então se programe para chegar com pelo menos uma hora antes do último bonde partir, que ocorre às 15h. Uma vez no veículo, se segure bem porque ele corre e chacoalha muito. O passeio começa passando por cima dos Arcos da Lapa e segue por uma via íngreme que transporta o visitante para outra época, já que casarões inspirados na arquitetura francesa do século XVIII são algo inédito até então. ​​​​​​​
Arcos da Lapa
Arcos da Lapa
Escadaria Selarón
Escadaria Selarón
Vista do Bondinho
Vista do Bondinho
Largo do Guimarães, em Santa Teresa
Largo do Guimarães, em Santa Teresa
Leva cerca de meia hora até o pico do morro, e aqui é importante ressaltar que se pode escolher voltar até o Centro do Rio a bordo do veículo, ou desembarcar em uma das estações ao longo do trajeto e descer o morro a pé. Escolhi essa segunda opção para poder conhecer um pouco mais do bairro.
Atualmente, Santa Teresa abriga alguns hotéis bem luxuosos, diversos bares descolados e algumas galerias de arte, então, como só tinha uma tarde para conhecer o local, escolhi desembarcar na parada Largo do Guimarães para almoçar no restaurante Sobrenatural, especializado em frutos do mar, tomar duas caipirinhas no Portella Bar, point entre os gringos, e caminhar sem rumo pelas ruas admirando a arquitetura dos casarões. Ainda descobri o cinema de rua Cine Santa Teresa, que só tem uma sala com 60 poltronas e frequentemente exibe exposições de artistas cariocas. Após isso, peguei um Uber e voltei para o hotel.
Dia 4 - Pulando ondinhas
Acordei 5h30 para poder ver o sol nascer na praia de Copacabana e aproveitei para dar um mergulho no mar gelado, o que eu adoraria poder fazer todos os dias. Apesar disso, consegui voltar para o hotel e cochilar até às 10h, quando era hora de encontrar uma amiga no Clube de Regatas do Flamengo. A viagem de Uber até lá não saiu por mais de R$ 15, e pegamos um açaí na Bibi Sucos para tomar enquanto caminhávamos para a praia do Leblon. O sol de rachar com o mar azul, e o Morro Dois Irmãos ao fundo, só me reafirmaram o porquê do título Cidade Maravilhosa.
Depois de uma água de coco, voltei pro hotel para tirar o sal do corpo e fui almoçar na obrigatória Confeitaria Colombo do Centro, em funcionamento desde 1894. Com uma decoração interior de cair o queixo, o restaurante é um dos ícones do Rio, então vale a pena enfrentar a fila para provar pelo menos um salgado ou doce de lá. No meu caso, pedi um risoto de cogumelo ao molho gorgonzola e um pudim maravilhoso de sobremesa.
Em seguida, peguei a linha 3 do VLT e fui até a Central do Brasil, onde gravaram o filme de 1998. Como uma espécie de Estação da Luz, dali partem centenas de trens todos os dias, ligando o Centro aos bairros mais afastados da zona Norte e Oeste da cidade. Mesmo durante a pandemia, o local estava cheio de gente. Aproveitei para dar uma passeada sem rumo pelas ruas ao redor, onde descobri a Praça da República, bem maior e mais bonita que a de São Paulo, o edifício do Quartel Central do Corpo de Bombeiros, que lembra um castelo, e diversos casarões abandonados há anos, mas que continuam charmosos.

Praia do Leblon

Confeitaria Colombo
Confeitaria Colombo
Central do Brasil
Central do Brasil
Quartel Central do Corpo de Bombeiros
Quartel Central do Corpo de Bombeiros
Aproveitando que decido para onde vou sempre em cima da hora, peguei a linha 2 do VLT na estação Saara e desembarquei na Praça XV, de onde partem as balsas que vão em direção a Niterói a cada meia hora, cortando a Baía de Guanabara. Peguei um Uber para chegar até o Museu de Arte Contemporânea, projetado por Niemeyer, e passei uns bons vinte minutos no pátio fotografando o edifício com formato de nave espacial. Por conta do horário acabei não visitando o interior, então fui descendo a rua até chegar na passarela da Praia de Boa Viagem, onde gravaram cenas dos filmes Minha Mãe é Uma Peça. Continuando a descer é possível encontrar alguns quiosques beirando o mar, e, claro, a melhor vista panorâmica das montanhas do Rio.
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Vista do Rio a partir de Niterói
Vista do Rio a partir de Niterói
Peguei a balsa de volta e fui jantar fora pela primeira vez. Escolhi ir num barzinho chamado Cajú, em Copacabana, que, além de uma infinidade de drinks, serve diferentes tipos de pratos para todos os gostos. Escolhi provar o ceviche vegetariano, que estava uma delicia, tomando uma caipirinha de morango. Depois de três doses da bebida, entendi que era hora de pular de volta na cama.
Dia 5 - Pela selva
Para o último dia, decidi tomar café num dos locais mais fotogênicos da cidade, o Plage Café, localizado no Parque Lage. Não existe estação de metrô ali perto, então a melhor opção é ir de Uber. Quase como um templo escondido na floresta do Morro do Corcovado, o parque conta com um palacete do século XIX e uma piscina que chama multidões de turistas a posarem para uma foto ali. Eu cheguei no horário que as portas abrem por dois motivos: tirar fotos sem ninguém e poder sentar em uma das mesas próxima à piscina. Apesar do menu bem completo, é uma opção um tanto cara, então vale falar que não é preciso consumir nada para poder fotografar o local.
Aproveitei para conhecer a trilha que existe no parque rapidamente, que conta com lagos e grutas, no entanto, segui para o Jardim Botânico, que fica a cinco minutos de carro dali, onde tive uma experiência de horas em meio à floresta. Considerando o tamanho, nem me preocupei em conhecer o máximo possível, apenas percorri o espaço admirando as centenas de espécies de plantas, cascatas e estufas espalhadas no local. Existe ainda um pequeno “museu” com alguns objetos de época chamado Casa dos Pilões, instalado em um dos antigos edifícios de uma fábrica de pólvora que existiu ali em 1810.
Jardim Botânico
Jardim Botânico
Plage Café
Plage Café
Jardim Botânico
Jardim Botânico
Pelas 14h peguei o Uber outra vez, agora para o Centro, onde percorri as ruas sem um rumo específico. Tenho tendência a fazer isso em qualquer lugar que vou, então sempre guardo um momento na viagem para andar por aí, imaginando quantas histórias aquela esquina, construção ou rua têm para contar, e quantas mais irão vivenciar. 
Meu almoço nesse dia foi na Hamburgueria da Alfândega, com lanches bem decentes (incluindo opção vegetariana) e que fica escondida na rua de mesmo nome, ao lado do CCBB. Depois disso peguei meu kit praia no hotel e desembarquei na estação Antero de Quental do metrô, no Leblon, onde aproveitei para admirar o sol se pôr uma última vez atrás do Morro Dois Irmãos.

Pôr do sol no Leblon

Como se locomover
Apesar da boa frota de ônibus, o metrô e o VLT são os meios de transportes públicos mais utilizados pelos turistas, já que cobrem as áreas mais famosas e centrais da cidade. O metrô você já conhece, mas o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é uma atualização dos bondes, que andam numa velocidade e trecho reduzidos. O valor varia dependendo do veículo, então eu recomendo comprar o cartão RioCard+ (o Bilhete Único deles) para utilizar o sistema de transporte público. Por outro lado, andar de Uber não é nada caro na cidade, com viagens relativamente longas saindo por volta dos R$ 12.
Atrações que não visitei por motivos de pandemia
O Palácio do Catete (ou Museu da República) foi muito importante para a história política do Brasil, já que foi sede e morada de presidentes da República, e hoje expõe documentos e objetos importantes daquela época, incluindo os utensílios de Getúlio Vargas, que se suicidou no local em 1954.
Já a Ilha Fiscal é uma das atrações que faz parte do Complexo Cultural da Marinha, e chama atenção por sua arquitetura que lembra um castelo. O acesso até o local é feito de barco e adquirindo o ingresso é possível conhecer a Galeota Imperial, um navio com detalhes banhados a ouro, e o interior de um submarino utilizado para treinamento da marinha.
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